Treinamento concorrente pode produzir prejuízo nos ganhos de força e hipertrofia muscular. Porém, a magnitude deste dependerá da duração, frequência e intensidade do treino aeróbio.
Um tipo de treinamento de fato pode interferir nos efeitos do outro?
Embora esse tópico ainda continue um pouco controverso, um número crescente de estudos demonstrou que executar o treinamento de força e aeróbio concomitantemente resulta em ganhos de força prejudicados em comparação com o treinamento de força sozinho.
Em 1980, Hickson relatou que um programa de 10 semanas de treinamento concorrente (força + aeróbio) resultou em ganhos similares de Vo2máx em comparação ao grupo que somente foi submetido ao treino aeróbio. Porém, o grupo treinamento concorrente sofreu interferência nos ganhos de força, ou seja, teve ganhos menores nesta variável. Já o grupo submetido apenas ao treinamento de força apresentou aumento ao longo de todas as 10 semanas, enquanto o grupo concorrente aumento, porém uma redução nesta variável entre a nona e décima semana.
Desde que o estudo de Hickson foi realizado, numerosos pesquisadores sustentaram ou discordam da noção de que o desenvolvimento de força é comprometido durante o treinamento concorrente . Muitas dessas diferenças existem se dão em decorrência das diferentes constatações entre os programas de treinamento de cada estudo, isto é a metodologia do estudo. Por exemplo Sale et al., sugeriram que a efetividade do treinamento concorrente irá depender de vários fatores como intensidade, volume e frequência, além da maneira ao qual os modos de treinamento são aplicados. Claramente a frequência e a intensidade tem um impacto muito grande na resposta da possível interferência de um treinamento sobre o outro. Diante disso, os estudos que combinam frequência de treino constante e intensidade alta de treinamento concorrente identificaram que os ganhos de força são prejudicados.
Em uma revisão sistemática recente revelou-se que a o treinamento concorrente compromete os ganhos de força e a magnitude está intimamente relacionado a duração e frequência do treino aeróbio. Especificamente os estudos de treinamento concorrente em que os voluntários executaram o treinamento aeróbio em mais do que duas vezes por semanas e por mais de 30 minutos/dia concluíram que o treinamento concorrente prejudicou os ganhos de força e hipertrofia muscular comparados aos voluntários que somente realizaram treino de força.
Quais os possíveis mecanismos que levam a esse comprometimento do desenvolvimento de força durante o treinamento concorrente?
Com o passar dos anos vários mecanismos foram propostos para explicar por que o treinamento concorrente impede o desenvolvimento de força quando comparado somente a execução do treino de força. Entre esses mecanismos estão os componentes neurais, depleção de glicogênio muscular, transição do tipo de fibra, excesso de treinamento e síntese de proteína. Esses serão listados a seguir:
Fatores neurais: Foi proposto na literatura que o treinamento concorrente compromete o desenvolvimento de força por fatores neurais. Alguns pesquisadores sugeriram especificamente que o esse tipo de treinamento compromete o recrutamento de unidades motoras, e portanto, diminui a produção de força.
Porém, essa possibilidade é sustentada por evidencia limitadas. Por esse motivo, atualmente não está claro se as alterações envolvendo o recrutamento de unidades motoras contribuem para o comprometimento dos ganhos de força quando um treinamento concorrente é realizado.
Baixo conteúdo de glicogênio muscular: sucessivas séries de treinamento concorrente podem produzir níveis musculares cronicamente baixos de glicogênio muscular. Isso significa que o treinamento concorrente podem produzir baixos níveis de glicogênio muscular em repouso. Portanto, iniciar uma sessão de treinamento com uma baixa concentração muscular de glicogênio pode diminuir a capacidade de realizar sessões de treinamento de força, isto é reduzir a capacidade de repetições máximas e consequentemente o volume total de treino. Como existem uma relação dose dependente entre volume e ajustes de força e hipertrofia esse fator citado acima irá comprometer a maximização das adaptações.
Treinamento excessivo: este é definido como um desequilíbrio entre o treinamento e recuperação. Uma revisão concluiu que o treinamento excessivo pode contribuir para a incapacidade dos ganhos ideais de força quando treinamento concorrente é realizado. No entanto, até o momento nenhum estudo crônicos forneceu evidencias diretas de que o excesso de treinamento seja um dos principais fatores a contribuir para a inibição dos ganhos de força.
Síntese de proteínas diminuída: teoricamente, as séries de treinamento concorrente podem resultar em uma síntese de proteínas comprometida após o treinamento de força. Estudos tem observado de que ao treinamento de força aumenta a síntese de proteínas contrateis musculares ao ativas a via de sinalização IGF-1/Akt/mTOR. Por outro lado, o treinamento aeróbio intensifica a ativação da AMPK e promove a biogênese mitocondrial. Porém, a AMPK quando ativada também poderá acionar uma molécula sinalizadora chamada de complexo da esclerose tuberosa I/2 (TSC I/2). Esta por sua vez ativa produziu uma inibição na atividade da mTOR e , portanto, comprometendo a síntese de proteínas.
Desta forma a via AMPK/TSCI/2 fornece a ligação bioquímica para explicar porque o treinamento concorrente pode comprometer as adaptações neuromusculares. No entanto, ainda a necessários mais pesquisas para solidificar essa afirmação.